Sempre boicotada, não importa quanto tempo demore. Às vezes, por mim. Muitas vezes, pelos outros. Mas, inevitavelmente, pelas outras.
Sempre boicotada, não importa quanto tempo demore. Às vezes, por mim. Muitas vezes, pelos outros. Mas, inevitavelmente, pelas outras.
“Na era em que vivemos a coisa mais interessante que está por vir é a imaterialização. Seria fantástico poder andar pelo mundo sem carregar nada nem relógio, nem telefone, nem laptop, nem passaporte. A liberdade verdadeira seria poder usar roupas sem bolsos. Dinheiro, moedas, chaves, é tudo tão antigo e ultrapassado. É um absurdo essas notas caindo aos pedaços que a gente carrega.” Karim Rashid para Serafina, Folha de S.Paulo, outubro 2008.
É isso o que eu sinto quando saio pra almoçar sem a bolsa gigante, só com o cartão do banco no bolso do jeans. É isso o que eu sinto quando esqueço o celular em casa dois dias seguidos: liberdade. Mas não é sempre que consigo agir assim. Questão de desapegar aos poucos. Mas que dá uma sensação doida de poder, de estar andando no mundo como se estivesse no quintal de casa, isso dá.
Segundona e eu até que estava feliz, cantando na chuva. Mas as coisas vão se atropelando e dá vontade de enlouquecer de vez. Aquela coisa horrorosa que faz revirar o estômago está presente. Preciso me livrar disso sem atingir alguém. O ritmo é absurdo. O clima está tenso. Quem sabe escrevendo...
Fui me pesar, a balança estava desligada. “Não precisa ligar não moço, melhor assim”. Eu continuo adorando a sensação de estar certa, mas parei com a chatice do eu-te-disse. A vida é mesmo interessante: a cada dia uma nova descoberta! Um dia é uma mancha marrom que surge na sua bochecha. Outro dia é uma linha a mais no seu pescoço. Outro dia ele diz que tem uma semi-namorada. É mais seguro gritar por dentro. Outro dia, disse durante o almoço que odeio lentilha. Meu pai sempre se ofende com essas coisas. Na mesma noite, ofereci chá gelado pra uma criança: “Que nojo! Eu odeio chá gelado!”, ela disse. E só assim eu percebi o quanto sou ridícula. Os meus finais de semana não têm sido melhores do que os dias úteis há séculos. Ou eu me viciei em trabalho ou a minha vida está muito chata. Ou as duas coisas. O meu avô que sapateava morreu e eu escolhi a sala do velório. Eu levei as roupas e a dentadura. Eu fiz orçamento de caixão e flores. Eu levei a viúva. Eu recebi o colchão d´água furado que ficou no hospital. Eu fiz uma cerimônia budista na qual o único membro da família presente era eu. Mas o que é qualquer sofrimento idiota da nossa vida medíocre perto da cegueira. Perto do mal de alzheimer. Perto da fome. Perto da miséria. Somos nada. Pra que vaidade? Se as pessoas enxergassem a alma umas das outras, o mundo seria tão melhor. Dói o coração pensar nisso. Mas o que é a minha dor diante de uma simples constatação perto da cegueira. Perto do mal de alzheimer. Perto da fome. Perto da miséria. Somos nada. Pra que vaidade? Se as pessoas enxergassem a alma umas das outras, o mundo seria tão melhor. Dói o coração pensar nisso. Mas o que é a minha dor diante de uma simples constatação perto da cegueira.
Hoje não estou com vontade de ser simpática, nem de procurar a melhor solução, nem de pensar no que vou dizer, nem de agüentar brincadeirinhas, nem de ter paciência, nem de meditar, nem de tolerar aquele mantra que fica ecoando na minha nova cabecinha zen, nem de fingir que eu não sei que estão querendo me sacanear, nem de suportar gente que me incomoda só pelo fato de existir. Não estou com vontade de nada muito controlado. Hoje sou só instinto, cão raivoso. Escrever isso me fez descobrir o óbvio: tpm, claro.
Perdi meu celular. Perdi o sono. Perdi a hora. Perdi os cds que estavam no carro. Perdi a paciência.
Eu não sou uma pessoa simples, por que pagaria um imposto simples, não é mesmo? Aliás, eu nem sou uma pessoa física, por que algo em mim seria simples? Hein?
Dramática, do alto de seus 32 anos bradava aos quatro ventos que a era da decadência havia chegado.
Mesmo que insistissem em dizer que aparentava muito menos e que estava ótima, não se cansava de dizer
que o último ano valeu por 10 na escala do envelhecimento e que nada mais seria como antes.
Camisa branca, casaco branco, cozinha branca, cafezinho na mão, chão molhado, sapatinho liso.
Um escorregão e o café quente foi direto ao rosto, camisa branca, casaco branco, cozinha branca.
Ardeu. Chorou de ódio e jurou nunca mais tomar café.
Mentira. Morreu de vergonha da leviandade. Jura que não fala mais bobagem.