domingo, 15 de fevereiro de 2009

A era de aquário: verdade, a qualquer preço?

"Mãe, tô me sentindo feia", disse ela. Silêncio. Mais silêncio. A mãe procurava algo no fundo da geladeira. "Não filha, não acho. Só acho que acabaram com o seu cabelo." O cabelo era a única coisa que ela considerava bacaninha naquele dia.

Ela havia trabalhado semanas - dias e noites - no roteiro de um vídeo. Chegou em casa com a versão final em DVD. A primeira exibição foi na sala, para a família. "Tosco", disse o irmão.

Ela não ligou pra nada, sabe? Ela já sabia que ali era assim. Que ninguém tinha a menor sensibilidade, que as pessoas eram simplesmente naturais e não se importavam em oferecer o mínimo de falsidade para uma convivência socialmente razoável.

Se não estivesse tão feliz com o resultado do seu trabalho, cortaria os pulsos. Ela não ligou. Podia estar um pouco fora do peso e com a pele horrível, mas finalmente tinha feito algo de que se orgulhava e nada mudaria isso. Mesmo assim, resolveu dormir o resto do dia. Ela tinha planos.

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