quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Mais uma de dor

Prego por prego, desde o começo, tudo estrategicamente planejado. Tudo errado. Como é que eu consigo ser tão equivocada? Inadequação recorrente, é isso o que sinto. Além de me pregar sozinha, ainda erro a martelada e acerto os próprios dedos, em vez dos pregos. De novo e de novo. Como pregar uma verdade em que eu mesma não acredito? Nunca aprendi nada. Cega, burra, estúpida. Traumatizo duplamente: pela repetição e pela intensidade. Muitos golpes, todos muito fortes. Alguma luz: própria imagem distorcida, refletida no espelho do teto. Uma confusão de ego com amor próprio. A morte. A ressureição.

(Desenho de Orlando Pedroso)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

"Preciso de um homem que me faça calar a boca"

(Post editado)
Acabo de voltar do filme da Clarah Averbuck, Nome Próprio. Cheguei do cinema sozinha, às duas da manhã, com a cabeça fervilhando de sensações, flashbacks. Escrevi um texto enorme, como se estivesse bêbada, identificando vários pontos em comum da trajetória de Camila com a minha. Cheguei a dizer a um amigo metido a crítico que qualquer comentário ruim sobre o filme eu levaria como crítica pessoal, mas ei, a noite passou, eu dormi, meu coração aquietou e, tirando a intensidade, a forma exagerada de amar e o gosto pela escrita, tirando o gosto pela montanha-russa, Camila não tem nada a ver comigo.

Eu não tenho mais os tais "colhões" pra me expor daquela maneira, como já tive. E nunca tive essa vida rock-n´-roll. Não me orgulho dos meus momentos ruins, prefiro vomitar minhas histerias em conversas de msn com amigos pacientes e caridosos, do que me abrir daquela maneira à gente que nem sei quem é. Mas ela tem colhões e tem todo o meu reconhecimento. A mulher escreve muito e o filme, para mim, não surpreendeu: era tão bom quanto eu imaginava. Nem mais, nem menos.

Não tenho sangrado em público, mas coisas assim me dão vontade de escrever. Escrever na parede, na mão, no guardanapo de papel do bar, no espelho, no teto, no abajur, no lençol. Eu não tenho o mesmo estilo de vida que a Clarah, não ouço as mesmas músicas, não faço as mesmas loucuras, não uso a mesma roupa, mas não tive como não me ver em muitas cenas do filme. Vi o que penso, o que sinto, o quanto me iludo. Vi minha histeria de fora e gente, não é justo afogar meus amigos nesse poço profundo de pensamentos histéricos. Não posso ir pra terapia ainda e os coitados devem estar sofrendo demais com isso.

Se eu multiplico por 100, Clarah Averbuck multiplica por mil e, honestamente, não sei como ainda está viva. Só escrevendo mesmo. Só vomitando todo essa intensidade em páginas internéticas. Mas isso tudo é a Clarah, ou a Camila, não sei. O filme? A nota máxima era 5 e foi essa a minha nota. Direção de atores perfeita, locações exatas (tirando que não apareceu a Fun House), Leandra Leal (nunca imaginei!) muitíssimo bem. As partes lentas não me irritaram muito, mas acho que pra quem não sente assim, inteeeeeeeeeeeeeeeeeeeenso, deve ter incomodado. Eu gostei muito.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

domingo, 28 de outubro de 2007

Museu do Ipiranga




Meu caminho de todos os dias não é dos melhores: viadutos sobre linhas de trem, fura-fila, vias em reforma e fumaça. Mas quando eu passo em frente desse lugar me vem uma súbita vontade de fazer o sinal da cruz, como uma católica devota quando passa em frente à igreja.


segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Sonho

E quando me olhei no espelho e vi o seu rosto, em vez do meu, lembrei de quando você me disse que tudo o que a gente vive faz parte de quem a gente é, da nossa constituição.

Acordei triste de saudade, mas feliz por saber que você sempre fará parte de mim.

...

Será que você veio do passado para anunciar o novo?
Porque sinto a batucada se aproximar.
Certas músicas nunca envelhecem.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Medos e certezas

medo de não mudar
medo de não mudar nada
ficar tudo no mesmo lugar

medo de ouvir "veja bem:
sabe tudo o que te prometemos?
desculpe, mas hoje não tem"

meu apego não é pelas coisas do mundo
nem pelo resultado, no final da linha reta.
meu apego é pelas idéias e, no fundo,
sou é vidrada em estar certa.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Apavorado, o moço do novo pet shop sai com meu cachorrinho no meio do banho, o pobre ainda molhado e enrolado numa toalha:

- Você está vendo, né? Eu vou ter que cobrar uma taxa extra, moça. Seu cachorro tem um temperamento muito difícil e eu estou levando o dobro de tempo para desembaraçar os pêlos.

Eu acompanhava tudo pelo vidro. Meu cãozinho George comia o vento quente do secador, mordiscava as mãos do moço e latia compulsivamente, ao lado de um pacato e gigantesco São Bernardo, que realmente levara metade do tempo no banho. Só pude cair na gargalhada:

- Suspende o teste de DNA que o filho é meu!

domingo, 7 de outubro de 2007

De trás pra frente

Porque começo as coisas pelo fim, às vezes, não quer dizer que as coisas não precisem ter um início, mesmo que seja no final.

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"Eu jogo ao fogo todo o meu sonhar
Eu quero ver o fogo se queimar
E até no breu reconhecer
A flor que o acaso nos dá
Eu jogo pérolas ao deus dará"

Pérolas aos poucos (Zé Miguel Wisnik e Paulo Neves)

Ninguém se deslumbra o bastante

Ninguém me disse que era tão maravilhoso quanto realmente é. Ninguém me encheu o saco o suficiente pra eu acreditar e entrar no despero de querer ver o mais rápido possível. Se tivessem me falado do Museu da Língua Portuguesa da mesma forma que fizeram com Tropa de Elite, talvez eu tivesse acreditado. Quanto tempo perdido. Acho que é porque a palavra "museu" tem um peso que não condiz com o que é o lugar. Aquilo é um universo de sensações, uma viagem, um sonho, um mergulho no mundo das palavras. Museu é coisa do passado. O lugar devia se chamar Apoteose da Língua Portuguesa.

.........

"Não facilite com a palavra amor. Não a jogue no espaço, bolha de sabão. Não se inebrie com o seu engalanado som. Não a empregue sem razão acima de toda a razão (e é raro). Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra. Não a pronuncie."

O Seu Santo Nome - Carlos Drummond de Andrade

sábado, 6 de outubro de 2007

Nuncas

Não, não adianta você entrar aqui e achar que vai encontrar algo novo. Eu não tenho tempo pra isso, sendo "isso" o ato de sentir, pensar, escrever e publicar.

Nunca trabalhei tanto. Apesar das grandes dificuldades presentes, nunca foi tão fácil acordar, tomar meu banho quente que termina com o choque térmico de uma ducha gelada, nunca fiz questão do café da manhã como faço hoje, nunca havia esquecido tantas vezes onde parei meu carro ao sair, nunca havia ficado até às 10, 11, 12, 1, 2, 3 da manhã no trabalho, nunca na quarta, na quinta e na sexta, nunca tantas vezes, nunca sorrindo, nunca cantando, nunca gargalhando, nunca sem dinheiro, nunca.

Nunca vou deixar de escrever meus desabafos, porém, nunca mais com tanta freqüência.