sexta-feira, 15 de abril de 2011

Don´t let him dream a little dream of me, please!

Post resgatado do início de abril.

Apesar do clima e da recepção (ambos frios), apesar da falta de humor (deles e nossa) e apesar das circunstâncias todas procuramos manter o amor presente. Ele tem insistido em se esconder entre coices de um e de outro, ou se congelou em algum buraco frio de nossas malas ainda não totalmente desfeitas. É tanta incerteza, tanta coisa acontecendo, tanta coisa deixando de acontecer que, de repente, parece que estamos parados num mundo que continua rodando, ainda mais rápido. Seria o eixo da Terra? Parece que fomos forçados a dar um tempo de tudo, inclusive de nós mesmos e aqui, no novo apartamento, ainda não conseguimos nos encontrar totalmente. É como se cada um estivesse flutuando em sua própria bolha. Algo ficou perdido em alguma bagagem, no aeroporto, no avião, no hotel, no táxi, na Dani, sei lá. Talvez no Brasil.

Conviver vira o esporte mais radical que já praticamos. É um excesso, é uma falta, é um pênalti, é uma cobrança, mais uma, é um gol ou outro e olhe lá. Nós, que já vivíamos juntos, agora estamos grudados, e à força. É um estar sem querer e uma dependência tão grande um do outro, que ‘não há’, ‘não há’ alternativa a não ser dormir. Não há refúgio além do sono, onde cada um pode viajar livre em sua segunda vida. Sono é fuga e fugir é necessário de vez em quando.

“Dream a little dream of me”, diz a música que toca no meu notebook. E tudo o que eu desejo agora é que ele tenha sonhos doces, mas não comigo. Que tenha paz durante o sono. Que viva outras coisas e volte descansado para a dura arte de viver comigo.

Mais um post do pretérito imperfeito e dramático

Nunca fui adepta a formalidades, nunca gostei. Aqui, sou obrigada. A formalidade dá ao sujeito o direito de ser rude o tempo todo, desde que com educação. “Não faço a menor ideia” é resposta que se aplica a quase toda pergunta feita por brasileiros. Sim, brasileiros são discriminados. Brasileiras, ainda mais.

Conhecemos uma gaúcha que teve que aprender o sotaque português para conseguir trabalhar. Os portugueses não queriam ser atendidos por uma brasileira. Com muito pesar, ela se moldou e garante seu emprego de vendedora de pacotes de TV a cabo há 4 anos.

Não é só o sotaque. É entonação, é a ordem das sentenças, é todo um vocabulário novo e um drama expresso em cada frase. “Tem cartão telefônico?”. A resposta é drástica, definitiva: “Não há.”. Na minha cabeça, a resposta está EEEEErrada. Se ‘haver’ significa ‘existir’, ele não pode dizer que não há cartão telefônico e se o diz, é porque é, por natureza, exagerado na negatividade, coisa comum por aqui.

02 de abril, um post do passado

As cerejeiras(?) parecem árvores de pipoca. Raríssimas folhas verdes entre as flores brancas como a neve nos dão a impressão de que essa primavera é totalmente fake. Faz frio. Para eles, não. Para nós, muito.

Mais uma vez, uma nova casa. Foram 3 mudanças em 3 semanas. Do hotel para a casa da Dani e de lá, pra cá, nossa primeira casinha na Europa. Grandes janelas somadas à falta da TV e da internet (agora nos primeiros dias) nos convidam a olhar para fora. Lá, nada acontece. Aqui dentro, dentro de cada um de nós, o mundo de medos, dúvidas e tristezas vai se aquietando e começa a dar espaço para o novo.

No pequeno guarda-roupas não cabe tudo o que trouxemos na bagagem. Assim como não cabe em nosso coração o peso de tanto amor por tudo o que deixamos na nossa terra. O jeito é guardar bem guardadinho o que não podemos usar agora.

A casa foi limpa como nunca. Também, com certeza, como nós 2 jamais limpamos algo em toda a vida. Um exercício físico e mental de tirar a sujeira e tudo o que não presta do meio do caminho. Agora é começar com tudo limpo, um novo começo.

Dividir, eis a questão. A cama, o banheiro, a comida, os pensamentos, as impressões, os rompantes. Não há mãe a quem recorrer. Há uma casa, com coisas a serem feitas. As roupas não são passadas sozinhas. Nem tampouco as louças se lavam ou a cama se arruma, como na casa mágica da mãe. Aqui, as coisas acontecem por uma única razão: alguém faz. Numa casa com dois, ou faz ele ou faço eu. Juntos, estamos fazendo. Quase um milagre. Milagre mesmo seria se conseguíssemos fazer tudo isso sem perder o humor.